Monday 23 April 2012

O Rapaz de Olhos Azuis (Crítica)



A primeira vez que toquei num livro de Joanne Harris foi o ano passado quando li o seu livro "Cocolate" também adaptado a filme. Sendo eu um amante da literatura fantástica, porque peguei num romance? Bem, primeiro porque o título "Chocolate" é demasiado bom para se deixar passar (se é que me entendem) e segundo porque todos precisamos de uma quebra de rotina, de "mudar de ares" durante algum tempo. E assim fiz. Porquê "O Rapaz de Olhos Azuis" e não outro qualquer da Nora Roberts, por exemplo, ou do Nicholas Sparks. Admitamos, todos os livros da Nora como do Nicholas são sempre iguais. Os da Nora têm sempre um casal de namorados cujo amor é proibido e impossível e nos do Nicholas há sempre alguém ou com cancro ou com alzheimer e tendo eu conhecido a dor que é ter alguém na família com cancro e alzheimer não me atrai muito ler sobre esses assuntos. E os livros da Joanne são sempre diferentes, há sempre algum campo por explorar ao qual ela se lança sem medo. Neste livro ela pega na tecnologia que nós utilizamos todos os dias (a Internet), mistura um pouco de psicologia, um pouco de crime, um pouco de mistério e um pouco de "O Perfume" de Patrick Süskind.
 O livro conta a história de Benjamim, filho de uma viúva com mais dois irmãos: Nigel e Brendan. A mãe, para facilitar a sua vida, dividiu os filhos em cores: Benjamim é azul, Nigel é preto e Brendan castanho. O que ela não sabia era que essa decisão podia afectar a vida dos seus filhos radicalmente. E assim, a história é nos contada numa mistura de primeira e terceira pessoa através de entradas em webjournals num site chamado badguysrock (os maus da fita são os melhores) em que Benjamim (ou assim pensamos) conta a sua história: desde os seus primeiros anos como assassino de caranguejos, passando pelos seus dias na mansão do Dr. Peacock, pelos seus assassínios (ou assim pensamos) e pela história de Emily White que lhe tirou a fama e que mais tarde acabou morta (ou assim pensamos). É que neste livro nada é o que parece, e até à página 380 (mais ou menos) lemos mentiras...
O livro foi publicado em Portugal pela Editora Asa, tendo como título original Blueeydboy e tem 3.12 estrelas no Goodreads.

-Personagens-
A nossa personagem principal é Benjamim (ou talvez não), o filho azul de Gloria Green, que nos conta a sua história (será?) através de entradas no seu webjournal. A personagem dele é deveras interessante. É que Ben é um sinesteta, ou seja, as partes do seu cérebro que controlam os sentidos (tacto, visão, paladar, audição e olfacto) estão ligadas e sempre que ele ouve uma palavra associa-lhe uma cor e/ou um cheiro. Se a palavra tem a cor azul é porque tem alguma relação com um assassínio. E assim, o resto das personagens são-nos apresentadas através de diferentes tons de azul (a Sra. Azul-Bebé, a Sra. Azul-Católico, a Sra. Azul-Eléctrico, etc). Eu sempre gostei de ler histórias sobre psicopatas (não faço a mínima ideia porquê, mas acho a sua forma de pensar interessante) e foi por isso que gostei de "O Perfume" e deste livro, mas este livro ainda dá um toque mais especial a este tema, uma vez que quem parece ser um psicopata afinal é uma pessoa normal e quem é uma pessoa normal acaba por ser um psicopata. 7 em 10 estrelas para as personagens.


-Escrita-
Apesar de (e começo a repetir-me) este livro estar escrito através de entradas de webjournals que são coisas pessoais, o livro está maravilhosamente escrito. Tal como acontece em "Chocolate", a autora tem um dom especial para descrever sabores, cheiros, sensações e ao mesmo tempo escrever um livro fácil e rápido de ler. Sem dúvida uma das melhores escritas que já li e digo isto como um fã d'As Crónicas de Gelo e Fogo. 10 em 10 estrelas para a escrita.


-Cenário-
O livro passa-se todo em Malbry, uma pequena vila no Reino Unido (pelo que percebi) e que, segundo Ben, cheira a m**da. Não temos direito a grande descrição da vila. Sabemos que está dividida na Cidade Branca constituída por casas brancas, Cidade Vermelha com casas de tijolo, a Aldeia com casas de pedra e o Bairro dos Milionários com mansões. É uma vila pacata, onde nada acontece até Benjamim descobrir o seu "dom" e até ao "Fenómeno Emily". 5 estrelas em 10 estrelas para o cenário.


-Ideia/Enredo-
A ideia está maravilhosa, apesar de me recordar fortemente "O Perfume", como se d'O Perfume se tratasse caso tivesse sido escrito depois da Internet ter aparecido. Mas o que arrebata com tudo é a forma como a autora pega na ideia e lhe dá voltas e voltas, e contorce a história, e vira-a de cabeça para baixo, faz treta por uma linha (deixem passar a expressão). Parece que a história foi escrita ao contrário, como se ela começasse pelo fim e acabasse no início. Eu acabei de ler o livro no domingo e ainda não consegui digerir bem o fim. Um fim espectacular que eu nunca tinha lido num livro. Uma reviravolta surpreendente que me queimou um grande número de neurónios... 10 em 10 estrelas para a ideia.


-Outros-
Eu já fui "deitando" o parâmetro "outros" ao longo da crítica. Neste parâmetro é suposto eu dizer as coisas que mais me surpreenderam no livro. E mais uma vez (e volto a repetir-me), o que mais me surpreendeu foi mesmo o final. Eu já devia estar habituado a reviravoltas depois de ter lido 4 livros d'As Crónicas de Gelo e Fogo, mas mesmo assim... É claro que vocês podem ler o livro e não gostarem tanto dele como eu, mas eu simplesmente... uau! Eu não costumo ler romances contemporâneos nem "romances caramelo", mas dos poucos que li, este está bem no topo e não é, sem dúvida nenhuma, um "romance caramelo". Muito pelo contrário. Eu quando me lancei para este livro estava à espera de uma coisa do tipo "Chocolate" em que há um casal e depois há amor e beijinhos em todas as páginas. Então avancei umas 20 páginas e vi que não era nada disso. É um livro em que em vez de amor e beijinhos há psicopatas e assassínios e ninguém é quem aparenta ser... Ah, já para não falar dos cãozinhos de porcelana. 8 em 10 estrelas para os outros factores.


Conclusão, este livro foi magnífico e maravilhoso e fantástico e um dos melhores romances contemporâneos que já li. Sem dúvida que vou procurar mais livros da Joanne. Portante, contas feitas, o livro obtém uma pontuação de 40 pontos em 50 que correspondem a 4 estrelas em 5. Sem dúvida, muito acima das expectativas...

Até à próxima e... boas leituras!

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