Tuesday 30 October 2012

Aprendiz de Assassino - Opinião

"No mercado populado da fantasia, os livros de Robin Hobb
são diamantes num mar de zircões. Toda a fantasia
devia ser assim..."
George R.R. Martin


Mais uma publicação, que se insere no género do fantástico, pela Saída de Emergência que conta com uma já vasta colecção de livros deste género na sua Colecção Bang! Desta vez vou dar a conhecer a minha opinião sobre um dos livros mais fantásticos que já li. Aprendiz de Assassino de Robin Hobb, cujo título original é Assassin's Apprentice, sendo que Robin Hobb é um pseudónimo para a autora Margaret Ogden.
O livro "Aprendiz de Assassino" inicia o leitor numa aventura que toma cinco volumes já publicados em Portugal mais cinco que contam o que acontece após o início de todos os acontecimentos. Seguimos a história de FitzCavalaria Visionário, filho bastardo de Cavalaria, o príncipe herdeiro dos Seis Ducados (reino onde a história toma lugar) que acaba por renunciar ao trono para, supostamente, afastar os olhares daqueles que lhe querem mal do seu único filho. Fitz chega a Torre do Cervo, casa da família real, ainda em criança e pouco se lembra desses tempos. Rapidamente desenvolve um bom relacionamento com Castro, o mestre dos estábulos, que prontamente o inicia na arte do cuidado com os animais. Assim, Fitz segue uma vida pacata, tratando de éguas e cavalo, cães e cadelas. Até que o Rei Sagaz o entrega a Breu, um homem misterioso de que muito poucos têm conhecimento. E é então que a vida de Fitz muda de rumo já que Breu é o "assassino pessoal" de Sagaz, aquele que afasta os indesejados ou os obstáculos para o rei. Fitz começa a aprender a fazer venenos e poções, aprende mil e uma maneiras de matar um homem silenciosamente e passa a conhecer todas as ervas que eventualmente levam à morte. Até que é lançado na sua primeira missão é escapa dela quase morto.

Primeiro de tudo tenho de colocar uma questão: por que é que eu nunca tinha lido este livro antes? Lembro-me de à cerca de 3/4 anos atrás ver este livro à venda num supermercado, olhar para ele e ler Robin Hobb. Rapidamente o pousei pois pensava ser um reconto da famosa história do Robin Hood, história que nunca apreciei. Passei então 4 anos na ignorância total. Até me ter sido sugerido diversas vezes que lê-se este livro. Depois de alguma pesquisa descobri que afinal este livro nada tem a ver com o Robin Hood e decidi, na minha visita à Feira do Livro de Lisboa, comprar este livro e a sua sequela, investindo assim cegamente em livros que nem sabia se ia gostar. Rapidamente me desapontei com eles. Após a minha chegada da Feira, lancei-me neste livro pois estava a vê-lo em todo o lado: Facebook, Goodreads, Youtube, etc. E quando cheguei à página 100 desisti. Não gostava da escrita que raramente tinha diálogo, era demasiado descritiva e aborrecida. Não estava a conseguir seguir a história nem sentia empatia pelas personagens. Pus o livro de lado e tentei fazer uma pausa e ler outros livros. Entre esses livros lidos estava "A Glória dos Traidores", um livro massivo do já conhecido George R.R. Martin. Quando acabei esse livro, pensei para mim: "Bem, tenho de ler o 'Aprendiz de Assassino' porque senão gastei 15€" e, contrariado, lá continuei a leitura.
E então, talvez por causa de ter lido "A Glória dos Traidores", talvez por me forçar a ler, descobri que este livro é mais do que maravilhoso. Não conseguia pousá-lo. Cada página que lia deixava-me ansioso pela próxima. Tremia quando Fitz sofria, sorria quando estava ao pé de Moli. Ri às gargalhadas quando aconteciam momentos estranhos (já que Fitz, no livro, está na idade da adolescência) e quase chorei quando Galeno lhe batia. Odiei profundamente Majestoso e ansiei para que Veracidade viesse ajudar Fitz. Rangi os dentes quando Castro virou as costas a Fitz, sorri quando o rapaz conseguiu usar o Talento. Senti uma mistura inigualável de emoções que se abateram sobre mim, levando-me para uma montanha-russa de sentimentos que me atingiam a cada palavra. A escrita que, apesar de bastante descritiva é muito cativante, deixando-nos entrar na mente de Fitz. Finalmente compreendo a paixão que algumas pessoas que conheço sentem por este livro. É simplesmente genial. As reviravoltas que dá com a facilidade de um piscar de olhos, os momentos de perigo e quase morte. Já para não falar que adorei os textos no início de cada capítulo que nos dão a conhecer um pouco mais dos Seis Ducados.
Não sei como continuar a descrever o quão maravilhoso este livro foi. Simplesmente posso dizer que me apaixonei por ele e vou ter uma luta bastante difícil comigo mesmo para ler outros livros em vez da sequela. Só espero que os livros que se seguem sejam tão bons ou melhores que este. Primeiro desilusão, depois paixão. Acho que o ditado está correcto, primeiro estranha-se, depois entranha-se...

5 em 5 estrelas, um Brilhante, isso não há dúvida nenhuma! Para quem ainda não leu este livro, o que estão a fazer?

Até à próxima e... boas leituras!

P.S.: Esqueci-me de mencionar o Bobo, uma personagem bastante interessante e que espero ver mais vezes nos próximos livros.
P.S.S.: Esta opinião está um pouco incompleta (falta mencionar várias coisas como o Talento, o Ferreirinho, os Forjados, os Navios Vermelhos, o Povo da Montanha, etc.) mas esta história é de tal maneira complexa que seria impossível falar de tudo.

Sunday 21 October 2012

Jantar Literário - Tag #2

A minha segunda tag aqui no blog que, tal como a anterior (Os 7 Pecados Mortais da Leitura) foi adaptada do maravilhoso mundo do booktubing (para aqueles que não sabem, o booktubing é o acto de publicar vídeo sobre livros no Youtube), criada pela booktuber NEHOMAS2 (http://www.youtube.com/user/NEHOMAS2).
Esta tag é bastante simples. Temos de convidar 11 personagens de livros para um jantar formal/informal, seguindo as indicações dadas.

1. Uma personagem que sabe cozinhar ou que gosta de cozinhar.
Uhhh... Fácil. A maravilhosa cozinheira da família Weasley, Molly Weasley. Para aqueles que já leram os livros do Harry Potter, saberão que a Molly é simplesmente uma cozinheira que todos quereriam ter em casa. Só as descrições que a J.K. Rowling faz dos seus cozinhados deixam-me água na boca.

2. Uma personagem que tem dinheiro para financiar a festa.
Esta levou-me algum tempo a decidir, mas acabei por escolher a Cersei Lannister. Por várias razões. Primeiro porque é uma Lannister e todos sabemos que eles são ricos como tudo. Segundo porque seria interessante conhecê-la, uma vez que ela é maluca de todo (e sim, compreendo que ela só é assim porque quer proteger os filhos) e porque a Cersei é a Cersei e isso é desculpa suficiente :)

3. Uma personagem que cause uma "cena".
Não pude escolher apenas uma personagem, mas escolhi em vez disso duas: Fred e George Weasley. Seria impossível separá-los e por isso eles têm de vir juntos. A escolha é óbvia. Besta dizer que são o Fred e o George e está feito. Onde quer que eles vão, algo de grande e espectacular acontece.

4. Uma personagem que é divertida e/ou que entretenha.
Tyrion Lannister, sem dúvida alguma. O seu sarcasmo e humor negro sempre me puseram a rir e com certeza que ele ia entreter muitos convidados com as suas conversas intelectuais. Já para não dizer que seria interessante ver o Tyrion e a Cersei sentados à mesma mesa...

5. Uma personagem que é super social/popular.
Como não conheço nenhuma personagem que seja super social e popular, vou escolher uma que é social e popular à sua maneira. Gandalf. Quer dizer, toda a gente de Middle-Earth ouviu falar dele e, sinceramente, toda a gente do planeta Terra também, por isso a popularidade não é um problema. Quanto ao social, não sei se o Gandalf é muito social, mas com certeza que conversaria com toda a gente.

6. Um vilão.
Fácil. A Rainha Vermelha de "Alice no País das Maravilhas". Primeiro porque ela é uma vilã excepcional. A frase "Off with their heads!" ("Cortem-lhes a cabeça!") ficará sempre na minha memória. E segundo porque ela é bastante cómica e "divertida" à sua maneira. Seria interessante jantar com ela.

7. Um casal (não tem de ser romântico).
Tenho tantas escolhas para este que nem sei por qual me decidir (Ron e Hermione, Peeta e Katniss, Fitz e Moli, Catelyn e Eddard, Robb e Jeyne...). Mas acho que me vou ficar pelo Ron e Hermione. Primeiro porque o Ron é simplesmente cómico e em muitos aspectos parecido comigo (aracnofóbico, introvertido, tem sardas, etc.). Segundo porque a Hermione também adora livros como eu e de certeza que teríamos bastantes conversas interessantes. Terceiro porque é sempre bom conhecer alguém de Hogwarts.

8. Um herói/heroína.
Sem qualquer sombra de dúvida, Kvothe de "O Nome do Vento". Um herói em todos os aspectos, uma personagem real e complexa, inteligente e corajoso. Quem não gostaria de conhecer o jovem e nobre Kvothe?

9. Um personagem pouco apreciada/que não tem um grande papel.
A personagem que vou escolher tem o seu papel no livro onde existe, e não é assim tão pouco apreciada, mas sinto que as restantes personagens lhe tiram o protagonismo. Falo de Luna Lovegood, a minha personagem favorita de toda a série Harry Potter, a Luna tem a mesma personalidade que eu. É introvertida, estranha, curiosa, imaginativa e está sempre com a cabeça na lua. Adorava conhecê-la, simplesmente adorava.

10. Um personagem à tua escolha.
A Arya, sem dúvida uma personagem que não podia faltar a um jantar épico como este. Quem não gostaria de conhecer a Arya? Tudo nela é interessante. Tão nova e já viu e experimentou tanto. É diferente dos outros e não se conforma com o que lhe é dito. Adorava conhecê-la.

Portanto, como podem ver, uma tag baseada bastante nos livros do Harry Potter e das Crónicas de Gelo e Fogo (porque será?). Convido toda a gente a participar porque, acreditem, esta tag vai-vos deixar a pensar durante muito tempo. Deixei muitas personagens de fora, mas só podia escolher onze por isso...

Até à próxima e... boas leituras!

Tuesday 16 October 2012

A Glória dos Traidores - Opinião


Há algum tempo atrás criei uma secção à qual chamei de "Livros de Opinião Impossível" à qual vão parar os livros que, basicamente, foram de tal maneira espantosos e, deixem passar a expressão, "mind f*ck". E claro, todos os livros das Crónicas de Gelo e Fogo vão parar a esta secção. Bem, e aqui vai mais um. O sexto livro das Crónicas de Gelo e Fogo, parte dois do livro "A Storm of Swords", foi chamado em Portugal de "A Glória dos Traidores", escrito pelo mestre George R.R. Martin. É praticamente escusado fazer uma introdução a este livro já que é praticamente impossível não se saber que livro é, mas mesmo assim, o essencial será dito. Publicado em Portugal pela editora Saída de Emergência, este é o sexto livro da saga que ultimamente tem ganho reconhecimento internacional após a adaptação televisiva dos livros pela HBO que também, por sua vez, tem ganho mais e mais reconhecimento, distribuindo o seu famoso título ("A Game of Thrones") pelos ouvidos e bocas de toda a gente.

Antes da opinião começar, um aviso de SPOILERS PARA TODA A SAGA!!!

Para dar uma breve introdução à saga, vou fazer um pequeno resumo dos livros anteriores.

Após a morte de Jon Arryn, Mão do Rei, o rei Robert Baratheon viaja até Winterfell no Norte para chamar o seu velho amigo, Eddard Stark, para se tornar Mão do Rei. Após ter aceite o cargo, Eddard e as suas duas filhas viajam para Porto Real, sendo que Sansa está destinada a casar com Joffrey Baratheon, "filho" de Robert. Após uma série de eventos e circunstâncias, Eddard é decapitado às mãos do vil e maldoso rei, Joffrey Baratheon. Aqui as coisas complicam-se uma vez que todas as personagens se espalham por todo o mundo, criando  uma teia complexa de história e acontecimentos. Jon Snow, filho bastardo de Eddard, vai para a Muralha onde se junta à Patrulha da Noite. Arya Stark foge de Porto Real e prepara-se para viajar de volta a Winterfell disfarçada de rapaz mas acaba por ser capturada e levada para Harrenhal onde conhece Jaqen H'Ghar e de onde foge até ser encontrada por foras-da-lei ao serviço do Lorde Berric Dondarrion. Catelyn, esposa de Eddard, viaja com o seu filho e agora rei, Robb, para conquistar e tirar o Trono de Ferro a Joffrey. Após uma série de vitórias por parte de Robb, este captura Jaime Lannister que depois Catelyn liberta. Robb casa com Jeyne, traindo assim a aliança com os Frey que depois é reposta com o casamento de Edmure Tully (irmão de Catelyn) com Roslin Frey. Sansa permanece em Porto Real sob as garras de Cersei e Joffrey. Para sua felicidade Joffrey fica de casar com Margaery Tyrell em vez de Sansa e esta apenas pensa em regressar a Winterfell. Daenerys Targaryen, por seu lado, continua em Essos, o outro continente onde, após a morte do seu irmão por parte do marido, Khal Drogo, e da morte deste último, viaja longas distâncias até Qarth após o nascimento dos seus três dragões. De Qarth viaja para as cidades esclavagistas de Astapor, Yunkai e Meereen. Tyrion Lannister após ter lutado ao lado de clãs e mercenários, volta a Porto Real onde é Mão do Rei enquanto o seu pai, Tywin Lannister, continua em guerra. Após um ataque de Stannis Baratheon a Porto Real, Tyrion sofre vários ferimentos e perde a posição de Mão do Rei após o regresso de seu pai, passando assim a ser mestre da moeda. Stannis Baratheon, por sua vez, submete-se a uma nova religião vinda de Essos, uma religião crente em R'Hllor, o Senhor da Luz e, com a ajuda de Melisandre, uma Sacerdotisa Vermelho, tenta conquistar o Trono de Ferro.

Agora para a opinião ao livro com SPOILERS DO SEXTO LIVRO!!!
Primeiros as personagens que conhecemos já há seis livros. Nenhuma delas mudou muito, mantendo os seus aspectos e características anteriores. Arya continua lutadora, mas não passa de uma criança com grandes ambições. Devo dizer que após a reviravolta na sua história, passei a gostar muito mais dos seus capítulos. Daenerys começou a perder algum interesse, uma vez que não lhe acontecia nada, mas após os acontecimentos em Astapor, voltou a ser uma das minhas personagens favoritas e é sempre interessante saber o que se passa do outro lado do mundo. Catelyn continuou a ser a mesma personagem aborrecida de sempre. Certo que tenho de compreender a sua posição como mãe e viúva, mas mesmo assim. Os seus capítulos eram basicamente ela a queixar-se de como todos os filhos estavam mortos (o que não é verdade, estão todos vivos. Quer dizer "agora" com este sexto livro não...) e de como sentia falta do seu querido querido Eddard. Não fazia nada e simplesmente fazia escolhas parvas como a que fez ao libertar Jaime Lannister. Devo dizer que no que toca a Catelyn, fiquei grato pelo Casamento Vermelho. A Sansa nunca me chamou muito à atenção. Os capítulos dela não eram tão aborrecidos como o da mãe, mas mesmo assim não eram divertidos nem interessantes de se ler. Até ao seu (SPOILERS) casamento com Tyrion Lannister. Aí os capítulos dela passaram a ser dos meus favoritos e devo dizer que estou bastante curioso no que toca a ela e a Petyr. Jon sempre foi interessante. A sua viagem e estadia na Muralha nunca fez muito parte da trama central uma vez que a história central gira em volta das guerras entre os reis e em volta do Trono de Ferro. A Muralha é mais como um "sub-plot", uma trama secundária ligada à principal indirectamente. Desde a sua viagem para lá da Muralha, passando pelo seu relacionamento com Ygritte até ao regresso a Castelo Negro parando finalmente na sua nomeação como (SPOILERS) Comandante da Patrulha. Quanto ao Davos Seaworth sempre tive uma relação de amor/ódio com ele. Alguns capítulos dele eram interessantes, outros nem por isso, mas gostei de conhecer Melisandre e a sua religião mais. Agora passemos a Cersei. Cersei é aquela personagem que adoramos odiar. Ela é má e uma víbora em todos os aspectos. Só nos apetece vê-la morta e debaixo do chão. Sempre atrás do seu filhinho, Joffrey (que felizmente (SPOILERS) morreu), apoia todas as decisões do filho. Não gosta de Tyrion nem de Sansa e é pior do que sei lá eu o quê. E o mesmo se aplica a Joffrey, mas, já diz o ditado, quem sai aos seus não degenera. Por fim temos Bran, uma personagem que achei aborrecida desde o início uma vez que não lhe acontecia nada. Os capítulos dele eram basicamente sobre os seus "sonhos verdes" e tinham a palavra "Hodor" mais de cem vezes por cada página. Felizmente creio que as coisas se estão a tornar interessantes para ele após a travessia para o outro lado da Muralha.
Agora aos acontecimentos que tomam lugar neste livro (atenção a SPOILERS para o livro todo). Sempre me disseram que este era o melhor livro da saga e eu sempre estive curioso em lê-lo. Iniciei a leitura do livro com grandes expectativas, esperando acção do início ao fim. O que não aconteceu. No início do livro quase nada acontecia, todos continuavam a sua vida normal, a lutar uns contra os outros. Mas então as coisas começam a ficar interessantes. Primeiro o casamento de Sansa com Tyrion. Dessa eu não estava à espera e até tive de pousar o livro para assimilar as coisas. A seguir a captura de Arya por Sandor Clegane. De início temi por Arya mas depois apercebi-me da relação de amor/ódio entre ambas as personagens.Depois o Casamento Vermelho. Aí é que o jogo vira de sentido. Quando pensamos que tudo corre bem para Robb, que a aliança com os Frey vai se restabelecida, quando achamos que Edmure será para sempre feliz com Roslin e que Robb finalmente tem hipóteses de ganhar a guerra, PUM! George R.R. Martin ataca outra vez com a sua paixão por matar personagens. A cena do Casamento Vermelho é bastante gráfica e quase parecia que estava realmente lá quando aconteceu. E depois vem o casamento de Joffrey. Um grande casamento envolto em muita sorte onde haverá sete músicos a tocar, setenta e sete pratos a ser servidos, centenas de convidados. Quando pensamos que Joffrey irá ganhar tudo e ficará com o trono, PUM! George R.R. Martin ataca outra vez. Mas desta vez para o bom. Joffrey morre finalmente, mas Cersei sobrevive. E, como Cersei é a pessoa que nunca queremos conhecer, acusa Tyrion de regicídio e este vai preso e será condenado. Sansa consegue fugir, apesar de também ser acusada de regicídio. Pensamos que voltará feliz para ao pé da mãe ou para Winterfell o que quer que seja, mas depois descobrimos que é Petyr que a salva. E, como disse anteriormente, estou curioso por saber como essa situação acaba.
Escusado será referir os locais e cenários deste livro que já são por todos conhecidos com excepção de alguns como Yunkai e Meereen que nos livros anteriores não tinham aparecido, assim como os Dedos. E também escusado será referir a escrita de George R.R. Martin que continua tão descritiva e bela como sempre.

Conclusão: sem qualquer sombra de dúvida um 5 em 5 estrelas, Brilhante ou mais do que Brilhante. Na opinião ao quinto livro disse que se pudesse rebentava com a escala. Acho que com este dava um 50 em 5 estrelas. Um "must read", uma leitura obrigatória para todos os fãs de fantasia e mais do que isso porque "As Crónicas de Gelo e Fogo" são mais do que fantasia, são tramas políticos e tramas familiares.

Até à próxima e... boas leituras!

Sunday 14 October 2012

Um Assassino em Asriad - Conto

Aqui vos apresento um pequeno e humilde conto da minha autoria alusivo à imagem publicada abaixo. Acrescento que esta imagem foi postada originalmente no grupo "O Cantinho do Corvo Fiacha" e que apenas me limitei a escrever o conto em volta da imagem. Bem, aqui fica.


Um Assassino em Asriad

            A neblina cobria o mar como um manto cinzento cobre uma cama. O sol brilhava no céu, acabado de nascer, refletindo a sua luz nas águas pacíficas e aquecendo o pequeno navio que deslizava suavemente no oceano. Joriah tentou ver para lá da neblina, mas apenas uma grande mancha cinzento-escura era visível. O seu cabelo loiro dançava com o vento que soprava forte naquela manhã. O capitão do barco subiu as escadas da sua cabina principal e resmungou qualquer coisa quando viu que Joriah se tinha levantado primeiro do que ele.
            Meia hora depois tinham atracado no porto de Asriad. O dia começava na cidade com os pescadores a chegar a terra e a despejar o pescado em contentores e caixas que depois seriam levados para o mercado. As peixeiras começavam a apregoar, as crianças corriam de um lado para o outro com os pés descalços sobre a pedra fria do porto, as criadas dos grandes senhores e senhoras da cidade traziam o seu pequeno cesto e compravam alimentos para o resto do dia.
            Joriah saboreou tudo aquilo enquanto esperava. Tinham-lhe dito que uma carta com as ordens a cumprir lhe seria entregue de manhã no porto e, por isso, agora só lhe restava esperar. Quando a fome despertou dentro de si, foi comprar duas sardinhas e um pão e comeu sossegado. Enquanto comia, uma criada passou por ele com o seu cesto e na borda havia uma carta. A criada deu uma pequena pancada e a carta caiu no colo de Joriah.
            O jovem mondarghi abriu a carta. Nela lia-se apenas duas frases: “Lorde Garfield. Independentemente do que acontecer, ele tem de desaparecer”. Era o quanto precisava de saber, aquele era o seu alvo.
            Saiu do porto, apreciando a pequena e cómoda cidade. Asriad localizava-se numa colina à beira-mar onde desaguava o rio Jarsmar que serpenteava colina abaixo. As casas tinham sido construídas ao longo da colina, tão perto uma das outras que pareciam caixas amontoadas. Pequenas pontes de pedra e madeira ligavam ruas superiores, pontes essas que tanto serviam de ligação como de habitação. Do outro lado da colina era o bairro rico da cidade, onde as casas eram mais afastadas, onde havia parques e onde o rio era limpo e translúcido, com as grandes mansões e jardins coloridos.
            Enquanto caminhava pelas ruas apinhadas de gente, Joriah foi apanhando pedaços de conversas aqui e ali e rapidamente descobriu que Lorde Garfield era o governador da cidade. E também descobriu que ia dar uma festa para celebrar o seu trigésimo terceiro Ciclo. O número três dá sorte, segundo se diz, e ainda mais sorte é celebrar o trigésimo terceiro Ciclo com Esthia, Elaria e Eria cheias.
            Chegou ao topo da colina. Dali podia ver o bairro rico de Asriad. Era uma parte mais calma da cidade, onde havia menos gente na rua, onde as crianças favorecidas brincavam nos parques acompanhadas das suas amas, os senhores e senhoras passeavam calmamente e conversavam, discutindo com que Lorde a filha se ia casar ou que rendimentos tinham tido no passado Ciclo. Havia uma particular azáfama em torno da maior casa da cidade. Era ali que, provavelmente, o Lorde Garfield vivia. Criadas e amas entravam e saiam da residência, apressadas para fazer qualquer coisa.
            Desceu a encosta. Antes de realizar o ato tinha de estudar o alvo, saber as suas rotinas, onde ia de manhã e de tarde, quando saía de casa e, mais importante, quando se tornava num alvo fácil. Os portões da casa eram guardados por quatro guardas e as portas principais da casa por mais dois. Quando espreitou por uma grande janela da mansão descobriu que o Lorde Garfield era seguido por mais um guarda que provou um bolo antes do Lorde o poder provar. Por que anda ele tão protegido? Então percebeu porquê. Aquela não seria certamente a primeira tentativa de assassínio. Ande protegido ou não, ninguém escorrega pelos dedos de um mondarg, muito menos pelos meus dedos, pensou Joriah.
            Após dar o estudo dos hábitos de Lorde Garfield por inúteis, Joriah dedicou o resto da tarde a procurar quem o tinha contratado. Todo o trabalho tinha sido feito em segredo. Nunca chegara a saber quem queria o Lorde Garfield morto, nem sequer sabia uma letra do seu nome. Não sabia se era um Lorde ou uma Senhora, se era rico ou pobre. No entanto iniciou a sua pesquisa por tentar descobrir a criada que lhe tinha dado a carta.
            Voltou ao mercado, agora na sua hora de ponta. As pessoas passavam atarefadas de um lado para o outro e em todo o lado toda a gente falava do trigésimo terceiro Ciclo do Lorde Garfield. Dizia-se que todos os Lordes e todas as Senhoras da Península de Darigmar iam à festa, que iam servir dezenas de pratos, que haveria teatros e músicos e que o melhor vinho de Gorganar tinha sido trazido. Não viu a cara da criada em lado algum e quando se preparava para partir, ouviu outra conversa entre duas peixeiras.
            — Ouvi dizer que o Lorde Garfield quase morreu na semana passada — disse uma.
            — Então, o que aconteceu? — Perguntou a outra, casualmente, como se aquilo fossem notícias ultrapassadas.
            — Parece que uma criada lhe envenenou o vinho. A sorte dele foi que o guarda provou primeiro e ele sobreviveu. A criada não foi encontrada, nem um rasto dela.
            — Com essa tentativa já lá vão… trinta e três? — E ambas começaram a rir histericamente.
            O que fez ele para o odiarem tanto?, questionou-se Joriah. Enquanto regressava ao bairro rico, passou por um templo onde um aglomerado de pessoas se tinha juntado. Abriu caminho pelo meio delas e entrou no grande templo iluminado por janelas coloridas que representavam os vários deuses ali adorados, os deuses da Nova Fé. No centro do templo e no centro de um círculo com doze estrelas de doze pontas, estava uma mesa de pedra onde um morto estava deitado. Doze velas tinham sido acesas em volta do corpo. Um Sacerdote no altar discursava acerca da boa vontade dos deuses e sobre como eles iam levar o bom Lorde Ariahad para o Reino Eterno. Uma mulher vestida de vermelho chorava junto ao corpo, acompanhada por uma criada. A criada, também ela vestida de vermelho, olhou para Joriah e este percebeu que era a mesma que lhe tinha dado a carta naquela manhã.
            Olhou de novo para o corpo deitado na mesa de pedra e de novo para a criada que agora consolava a recente viúva. Tinha sido o Lorde Ariahad que o tinha contratado para matar Lorde Garfield. E agora ele estava morto. A criada voltou a olhar para ele e lembrou-se do que a carta dizia. “Independentemente do que acontecer, ele tem de desaparecer”. O ato tinha de ser realizado, Lorde Garfield tinha de morrer.
            Desviou o olhar dos olhos frios e penetrantes da criada e desapareceu no meio da turba, deixando o Sacerdote a cantar uma prece qualquer à Deusa da Memória para que o Lorde Garfield não fosse esquecido.
            O sol começava a desaparecer no horizonte e ainda não tinha um plano para fazer Lorde Garfield desaparecer. Não podia simplesmente entrar na sua mansão e matá-lo. Teria de se infiltrar. Também não podia mentir e dizer que era um Lorde qualquer porque uma festa de tal magnitude teria os seus convidados bem escolhidos e controlados. Entar por uma janela não seria fácil, com todos aqueles guardas a guardar os portões frontais e com aquele muro alto.
            Decidiu voltar para junto da mansão, para a estudar melhor. Quando lá chegou já as três luas brilhavam no céu, com Esthia a lançar um brilho suave e prateado como as donzelas. Elaria brilhava dourada como a coroa que a Rainha usava e como o ouro que os Lordes e Senhoras usam para comprar os seus interesses. Eria, por sua vez, brilhava com uma luz cinzento-escura banal, como o resto do povo.
            Os primeiros nobres começavam a chegar. Bandaernos vindos do sul, noriathi do norte. Lordes e Senhoras vindos de todos os cantos de Erithios para celebrarem tão especial acontecimento. Viu Lorde Almuar’Enoh, um noriathi de Dagwell, a cidade mais a norte de Erithios. Aos quatro guardas que previamente guardavam os portões frontais, juntaram-se-lhes dois mordomos, um com uma lista com todos os convidados e outro que recebia os nobres do reino.
            Joriah estudou o muro que rodeava a propriedade e decidiu que era demasiado alto para tentar subir. Se não vou por cima, pensou, vou por baixo. A propriedade ficava isolada das outras, rodeada por um pequeno bosque de pinheiros. Foi até ao lado Este do muro e quando decidiu que era seguro, transformou-se. Tal como era habitual com os mondarghi, a Dádiva tinha-lhe concedido o poder de tomar a forma de um animal. Para sua sorte, era uma pantera. Quando se transformava, tornava-se num animal feroz com presas capazes de rasgar qualquer pescoço ou arrancar qualquer membro. Daí a sua fama de assassino.
            Começou a escavar junto ao muro com as suas garras compridas e afiadas. O seu pelo negro não passava de uma sombra entre as sombras e os seus olhos amarelos pareciam estrelas numa noite de Yx (ver em notas o significado). Quando viu que o muro não continuava mais, começou a escavar um túnel. Em poucos minutos uma passagem tinha sido aberta para o outro lado do muro. A noite já se tinha imposto e agora apenas as luas serviam de iluminação. Decidiu manter a forma de pantera negra pois seria mais fácil para se esconder na noite.
            Aproximou-se de uma grande janela que dava para o grande salão onde a festa decorria. Havia convidados de todas as raças, desde bandaernos com as suas imponentes asas negras e pele morena, até noriathi com a pele branca e os olhos azuis, passando por vanorianos com pele escura e longas espadas à cintura e pelos argonianos, poderosos na sua simplicidade.
            Havia convidados a dançar, outros parados a conversar e um grande grupo no centro do salão. Assumiu que aquele grupo se reunia em volta do Lorde Garfield. Os músicos tocavam músicas conhecidos por todos, como “A Espada do Sul” e “Os Cabelos da Donzela”. Finalmente o pequeno grupo dispersou e Joriah pôde ver o Lorde Garfield. Vestia um traje simples, uma túnica curta e cinzenta, um casaco vermelho e umas calças de lã grossa e castanha. Um longo manto vermelho com o símbolo da Casa Garfield bordado a ouro caía-lhe dos ombros, preso por um broche em forma de peixe a prendê-lo. O Lorde Garfield era, claramente, um argoniano, com o cabelo castanho e curto, barba aparada e olhos verdes. Sorria constantemente, de uma forma jovial, cumprimentando todos os que chegavam.
            Quando se apercebeu de que todos os convidados tinham chegado, pediu aos músicos que parassem. Fez um discurso que Joriah não conseguiu ouvir e quando acabou, os convidados bateram palmas de forma ruidosa. Só quando o Lorde Garfield desceu do pequeno estrado onde os músicos atuavam é que Joriah reparou no seu guarda pessoal que até então o tinha escoltado a toda a hora.
            Então surgiu a oportunidade perfeita para Joriah. Algum Lorde junto da janela onde estava chamou o Lorde Garfield que prontamente se aproximou. Joriah recuou e correu de encontro à janela. Saltou agilmente e partiu-a, entrando para o salão. Atingiu o Lorde Garfield que caiu ao chão e gritou. Os convidados também começaram a gritar e a fugir. O guarda pessoal de Garfield desembainhou uma espada longa e afiada e preparou-se para atacar a pantera, mas Joriah rasgou a garganta do Lorde e fugiu para o outro lado do salão onde os convidados se empurravam para sair. O guarda perseguiu-o, mas Joriah virou subitamente e correu para a janela partida em direção à noite escura. Saltou e conseguiu escapar.
            Quando se viu do outro lado da colina, onde as casas eram pobres e estavam empilhadas umas em cima das outras, voltou ao seu estado normal. A cidade adormecera com os seus habitantes a retirarem-se para as suas casas, preparando-se para o dia seguinte.
            Caminhou em direção ao porto onde esperaria por um barco que o levasse para longe de Asriad. O rio corria alegremente pelo meio da cidade e desaguava no mar agora escuro como o céu. O porto estava silencioso, ouvindo-se apenas os guinchos de alguns ratos. Então alguém lhe deu uma pancada na cabeça e Joriah desmaiou.
            Acordou numa sala ricamente decorada. Havia vários retratos nas paredes e tapeçarias com árvores genealógicas. Uma secretária de madeira escura tinha sido colocada em frente de duas janelas altas. Joriah estava sentado numa cadeira almofadada e à sua frente estava um bandaerno. Mas não era um bandaerno qualquer, era Lorde Ariahad.
            — Finalmente, acordaste — disse quando se apercebeu que Joriah tinha aberto os olhos. — Então, o Garfield está morto, não é?
            — Sim — respondeu Joriah. — Mas como é que…
            — Ótimo — interrompeu o Lorde Ariahad. — Há muito tempo que o quero debaixo de terra.
            — Então as tentativas de assassínio têm vindo de si?
            — Claro. De quem mais? E o Garfield começava a desconfiar. É que o lugar dele como governador pertence-me. Eu sou filho do antigo governador de Asriad e Garfield era pupilo do meu pai. A sua sede por poder começou a tornar-se demasiado grande e Garfield matou o meu pai. Uma vez que eu era muito novo e ele era pupilo de meu pai, fizeram-no governador após alguns subornos, apesar de toda a gente saber que tinha sido ele o assassino. O povo gostava muito do meu pai, sabes? Ele elevou esta cidade quera um monte de esterco a um monte de esterco com pepitas de ouro. Mas a Rainha sempre gostou do Garfield, vá-se lá saber porquê e desde então que ela me tem negado o meu lugar. Agora que tu o mataste, tu serás culpado e quando eu te entregar, a Rainha vai ter de me dar o lugar.
            — Mas tu estavas morto, toda a gente viu. O templo estava cheio de gente.
            — Sim. Mas a minha esposa, que sabia do plano, disse que queria levar-me para casa para a família se despedir de mim e afins. Claro que eu não estava realmente morto. A minha esposa esteve na Ilha durante dois anos e sabe o básico da Dádiva e conseguiu fingir a minha morte. Quando amanhã aparecer vivo, o meu médico dirá que tinha sido apenas um problema de coração e que não tinha morrido realmente.
            — E quando eles perguntarem como sabia que eu era o assassino?
            — E por que irão eles perguntar? Eu sou um Lorde, tu um desconhecido. E segundo o que eu vi, tu estavas transformado, não era? Todos sabem que foi um mondarg que fez o serviço. Primeiro porque nesta zona não há panteras negras e segundo porque nenhuma pantera negra selvagem parte uma janela, mata um Lorde que foi vítima de inúmeras tentativas de assassínio e vai embora.
            — Você estava lá quando eu ataquei?
            — Claro que estava. Senão, como me certificaria de que Garfield estava morto?
            — Esta cidade é demasiado corrupta… — murmurou Joriah.
            — A cidade não é corrupta. A política é que é.
            — Tanta sede de poder, tanto desejo de morte, tantos jogos de poder. Porquê tudo isto? Só por causa de um cargo e de mais algumas moedas? Só por causa da fama e do reconhecimento? Da riqueza?
            — A política é um jogo onde só os melhores sobrevivem. E como qualquer jogo, tens de saber jogá-lo para sobreviver. Garfield foi inteligente, mas desleixou-se quando se viu rodeado de poder e dinheiro. Agora vem, vou-te levar à Guarda de Asriad.
            Joriah olhou em volta. Um guarda tinha aberto a porta da sala e o Lorde Ariahad esperava por ele. Então Joriah levantou-se e correu em direção à janela, transformando-se na pantera feroz que realmente era. Aterrou silenciosamente na rua em baixo, caindo elegantemente na rua pavimentada. Lorde Ariahad gritou ordens aos seus guardas para que o perseguissem, mas Joriah correu rápido, rápido demais para os guardas.
            Quando chegou ao porto, havia um barco que partia. Transformou-se de novo e parou. Olhou para trás, para a cidade onde os pobres viviam em pequenas casas junto ao mar e onde os ricos viviam em mansões ao pé da floresta; onde o povo não passava de peças num jogo complexo e mortífero onde os ricos eram os jogadores; onde as teias da corrupção tocavam tudo e todos. Joriah olhou para trás e viu a cidade que por fora era brilhante e perfeita como uma maçã acabada de colher mas que na realidade é podre como uma maçã murcha e morta. Virou-se para o mar e saltou para o barco que partia, desaparecendo na noite. As luas brilhavam no céu e agora só os Deuses sabiam para onde ia.

            Notas: este conto passa-se em Erithios, no início do reinado da Rainha Olyria IV, quando Joriah tem apenas quinze Ciclos feitos. Em Erithios existem cinco estações, sendo que Yx, referida no conto acima, é uma época em que há bastante frio. Na cultura e religião de Erithios, os números três e doze dão sorte, assim como a cor vermelha, daí a presença destes elementos ao longo do conto.

Pedro Pacheco, 14 de Outubro de 2012